Fechado há dez anos, Ed. A Noite é adquirido pela Prefeitura do Rio

Primeiro arranha-céu da América Latina, prédio é considerado marco arquitetônico

Na última sexta-feira (31), a Prefeitura do Rio de Janeiro adquiriu o icônico Ed. A Noite, fechado e esvaziado há mais de 10 anos. A compra foi feita por R$ 28,9 milhões. A União tentou leiloar o prédio algumas vezes, sem sucesso.

O município vai arcar com os custos de manutenção do imóvel, mas deve buscar um investidor no setor privado, que esteja interessado em reformar e dar nova ocupação a esse imóvel histórico. A principal hipótese é que ele seja transformado em local de moradia, hotel ou mesmo um misto dos dois para consolidar ainda mais os investimentos na região portuária carioca.

“O objetivo é ajudar no processo de recuperação do Centro do Rio. A prefeitura não quer ter lucro nessa operação. Seria um incentivo a mais do poder público para a região, que já tem abates de tributos para a recuperação de imóveis. Queremos atrair o investidor privado para o Centro”, declarou Eduardo Paes.

Em 2020 foi anunciado o leilão do edifício, com avaliação inicial de R$90 milhões.

Restauração

Um dos problemas do prédio é o custo de sua recuperação, ainda indefinido. O primeiro arranha-céu da América Latina terá que passar por uma reforma supervisionada pelo IPHAN para ser restaurado de acordo com as características da fachada original entre outros elementos, como a escada em caracol de ferro. Uma minuciosa avaliação estrutural deverá ser feita.

Entre as incumbências de restauração está a de manter – independente do uso escolhido – a estrutura dos estúdios e auditório da Rádio Nacional, que funcionou por quase oito décadas naquele endereço.

A prefeitura avalia que a recuperação total do edifício vai custar entre R$ 80 e R$ 100 milhões — três vezes mais do que foi pago no leilão.

Primeiro Arranha-Céu da América Latina

Quando os navios ancoravam no Pier Mauá, no Centro do Rio, os visitantes se deparavam com um prédio de estrutura arrojada, que se destacava por sua imensa massa vertical.

O Edifício Joseph Gire, mais conhecido como “A Noite”, é considerado um marco arquitetônico do país e até 1934 foi o maior arranha-céu da América Latina e a maior construção em concreto armado da época.

Construído entre 1927 e 1929, o edifício teve projeto estrutural assinado por Emílio Baumgart e arquitetônico por Elisiário da Cunha Bahiana e Joseph Gire, o mesmo autor do Copacabana Palace, Hotel Gloria e do Palácio Laranjeiras.

Com fachada em estilo Art Déco, o prédio possui 102 metros de altura, com subsolo, 22 pavimentos e cobertura com uma vista de tirar o fôlego.

O imóvel foi erguido no local anteriormente ocupado pelo Liceu Literário Português, que se mudou para o Largo da Carioca, onde se encontra desde então.

Jornal A Noite

Um dos primeiros jornais populares do Rio de Janeiro, o A Noite chegou a ter cinco edições diárias e uma tiragem estimada de 200 mil exemplares. Fundado em 1911 pelo jornalista Irineu Marinho, foi o primeiro vespertino do Rio.

Depois da inauguração do Ed. Joseph Gire, na Praça Mauá, o jornal mudou-se do Largo da Carioca para lá, e acabou emprestando seu nome ao arranha-céu, que até hoje é conhecido como A Noite.

Trabalharam para o jornal nomes como Lima Barreto e Clarice Lispector, que exerceu as funções de repórter, tradutora e redatora.

Rádio Nacional

No dia 12 de setembro de 1936, entrava no ar pela primeira vez a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ao som de “Luar do Sertão”.

Sediada nos últimos andares do Ed. A Noite, a emissora ganhou importância a partir de 1940, quando foi incorporada à União pelo governo Getúlio Vargas. Ao longo dos anos, se firmou como um fenômeno da cultura brasileira. Em seu apogeu, a rádio chegou a ocupar cinco andares do imponente edifício.

Considerada a “Rede Globo” de sua época, a Rádio Nacional possuía um cast de grandes estrelas do rádio e da MPB, como Emilinha Borba, Marlene, Angela Maria, as irmãs Linda e Dircinha Batista, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Carmen Costa, Nelson Gonçalves, Carmélia Alves, Paulo Gracindo, Mário Lago, César de Alencar, Brandão Filho, Yara Salles, que se apresentavam em programas musicais de auditório, radionovelas, humorísticos, transmissão de jogos de futebol e noticiários.

Pioneira na integração cultural do país, a Rádio Nacional deixou definitivamente o Ed. A Noite em 2012, depois de 76 anos.

Outros usos e esvaziamento

Além do jornal A Noite e da Rádio Nacional, o edifício teve outros inquilinos famosos, como o escritório do arquiteto Lúcio Costa, que teve como estagiário um jovem estudante de Arquitetura chamado Oscar Niemeyer, então com 23 anos; as sedes do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), e de empresas como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Philips e Pan Am.

O A Noite também abrigou consulados, repartições do governo, escritórios de despachantes, e as agências de notícias La Prensa e United Press Association.

Em 2012, o prédio foi inteiramente esvaziado e fechado. No ano seguinte foi tombado pelo IPHAN por sua importância histórica e arquitetônica.

Torcemos agora que este símbolo da modernidade tenha um bom uso, sendo novamente incorporado ao cotidiano da cidade!

📍 Praça Mauá, 7 – Centro – Rio de Janeiro.

📸: @alexandresiqueirafotografia (atuais)

© Olhos de Ver – Patrimônio Histórico Rio de Janeiro

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