Igrejas da SAARA: Tesouros desconhecidos no Centro do Rio

Nem só de comércio vive a SAARA, sigla para a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, o maior centro comercial a céu aberto do Rio.

Entre suas 11 ruas e em meio à frenética movimentação de consumidores em busca de ofertas, sobrevivem placidamente algumas das mais antigas igrejas da cidade.

Ao entrar nestes templos, o visitante tem a oportunidade de usufruir do silêncio e da paz que eles oferecem, em contraponto ao exterior caótico no dia a dia do Centro no Rio.

Normalmente excluídas dos roteiros turísticos da cidade, estas igrejas guardam pequenos tesouros e muitas histórias para contar. Você sabia, por exemplo, que Tiradentes teria ouvido sua última missa na porta de uma delas? Sabia que algumas foram construídas por irmandades de homens negros?

Vale a pena conhecer estes edifícios históricos e observar detalhes de sua arquitetura e decoração. Eles podem ser visitados nos dias de semana, principalmente no horário do almoço.

A Olhos de Ver convida seus leitores para um passeio cultural pelas antigas igrejas da SAARA.

Igreja de Nossa Senhora do Terço

Em destaque, a capela-mor da Igreja de N.S. do Terço. Foto: Alexandre Siqueira

Apesar de pequena, é uma das mais significativas igrejas da região. A irmandade do Terço foi fundada em 1722, mas só em 1842 seria construída a igreja-sede.
A igreja guarda um belo interior revestido de talha em estilo neoclássico com muita harmonia e homogeneidade.
Na nave, destacam-se as imagens de São José, N.S. das Dores, Senhor dos Passos e N.S. do Terço. Na sacristia vê-se um belo lavatório de mármore e imagens de origem portuguesa.
No teto da nave há uma pintura com o símbolo de Nossa Senhora cercada de anjos. Também merecem destaque os azulejos portugueses, as portas e grades de jacarandá, e a portada em pedra de lioz.

A fachada da Igreja de N.S. do Terço. Foto: Alexandre Siqueira

O edifício de pequeno volume possui fachada sóbria, recoberta de pó de pedra cinzento. O conjunto é formado pelo corpo central e torre sineira única. Sobre o frontão elevado há outro menor, triangular, com cruz de ferro. A portada é encimada por uma janela em arco-pleno.

📍Rua Senhor dos Passos, 140.

Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia

Fachada da Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia. Foto: Leo Ladeira

Foram os negros escravizados que trouxeram para o Brasil o culto a Santa Efigênia e Santo Elesbão, de origem africana. A Irmandade era inicialmente sediada na igreja de São Domingos (demolida em 1943).

A igreja própria foi construída a partir de 1747 por uma irmandade formada por negros de Cabo Verde, Costa da Mina e Moçambique. A igreja sofreu reformas em 1868 e em 1913.

O edifício possui uma fachada austera, com torre única à esquerda, frontão triangular com óculo, portada e quatro grandes janelas.

Altar-mor. Foto: Alexandre Siqueira

O interior foi bastante alterado, não deixando quase nada dos tempos da fundação, à exceção dos altares de N.S.do Rosário e de N.S. das Dores.

Destacam-se a rara imagem de São Bom Homem, padroeiro dos comerciantes, e uma rica coleção de arte sacra, doada em parte pelo imperador D.Pedro II.

📍Rua da Alfândega, 219

Igreja do Santíssimo Sacramento

Fachada da Igreja do Santíssimo Sacramento. Foto: Alexandre Siqueira

Localizada na sntiga Rua do Sacramento (atual Av. Passos), a igreja é uma das mais ricas da região.

A irmandade foi instituída em 1567, na Igreja da Sé, no Morro do Castelo. Depois de passar por vários templos, foi finalmente adquirido, em 1816, o terreno para a igreja-sede, inaugurada em 1859.

A fachada apresenta duas torres laterais com dois relógios; e nichos que guardam estátuas de mármore.

Nave da Igreja do Santíssimo Sacramento. Foto: Alexandre Siqueira

O amplo interior de inspiração neoclássica impressiona pelo alto pé-direito, o que confere imponência e suntuosidade. O trabalho de talha é marcado pela monumentalidade. A falta de bancos na nave contribui para uma visão total do ambiente.

Destaque para as imagens da Fé, Caridade, Esperança e Religião; para a pia batismal (uma das mais antigas da cidade), e para os altares de N.S. das Dores e São Sebastião (esquerda) e de São Miguel e N.S.do Terço (direita).

À direita da capela-mor encontra-se a Capela de N.S.da Piedade, com pinturas a óleo e imagem de N.S.da Piedade.

📍Av. Passos, 50.

Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa

Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa. Foto: Alexandre Siqueira.

A Irmandade de N.S. da Lampadosa – ou N.S. das Candeias – era, originalmente, uma confraria de homens negros, que exerciam sua devoção na Igreja do Rosário.

Em 1748, receberam a doação do terreno e edificaram a primitiva Igreja da Lampadosa, que, na época, deu nome à rua.

A primitiva Igreja da Lampadosa retratada em aquarela de Debret

A antiga Igreja da Lampadosa foi retratada pelo pintor francês Debret, que reproduziu o enterro de uma mulher africana de origem moçambicana na Igreja da Irmandade.

A Lampadosa figura também entre os fatos ocorridos nas últimas horas de vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Segundo a tradição, o mártir da Inconfidência Mineira teria ouvido sua última missa na porta desta igreja, que em 1929 foi inteiramente reformada, sendo reconstruída em estilo neocolonial.

Às segundas-feiras, dia consagrado às almas, é intenso o movimento de fiéis que vão à Lampadosa acender suas velas e fazer suas orações.

📍Av. Passos, 15.

Igreja de São Jorge e São Gonçalo Garcia

Fachada da Igreja de São Jorge e São Gonçalo Garcia . Foto: Leo Ladeira

É a mais popular da região. A igreja é fruto da união de duas irmandades: a de São Jorge dos Ferreiros e a de São Gonçalo Garcia. A primeira foi fundada em 1741, funcionando em uma pequena igreja na atual Rua Gonçalves Ledo. Em 1790, é construída a igreja de São Gonçalo Garcia, na esquina da Rua da Alfândega com o Campo de Sant’Ana.

Em 1850, a Irmandade de São Jorge se estabelece naquela igreja, unindo assim as duas confrarias. A igreja original de São Jorge dos Ferreiros foi demolida em 1855.

A fachada chama a atenção pela alta torre, um dos símbolos da igreja.

Imagem de São Jorge. Foto: Leo Ladeira

O interior está descaracterizado, após sucessivas reformas.

Destaque para a imagem de São Gonçalo Garcia, representado com duas lanças atravessando seu corpo e com a ponta da orelha cortada. Há duas imagens de São Jorge: uma no altar-mor e outra na capela lateral, usada nas procissões do santo.

Também merecem atenção as imagens de N.S. da Conceição (altar-mor) e a de N.S. das Oliveiras, de origem portuguesa, localizada no altar à esquerda da nave.

📍Rua da Alfândega, 382, esquina com Praça da República.

Na próxima vez que for à SAARA, não deixe de incluir estas igrejas em seu roteiro!

Fontes de Consulta:

  • ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro”. Edit.UFRJ / IPHAN / Pref.do RJ – 1997
  • COSTA, Nelson. Rio de ontem e de hoje. RJ: Leo Editores, 1958.
  • MACHADO, Júlio César. O Barroco Carioca. RioArte e GRD – 1987.
  • Rio Antigo – Roteiro Turístico-Cultural do Centro da Cidade. EMBRATUR – 1979.
  • Guia das Igrejas Históricas da Cidade do Rio de Janeiro – Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / 1997.

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9 comentários

  1. EXCELENTE matéria sobre esse patrimônio da Cidade! Que sejam feitos roteiros guiados por todas essas igrejas para que o turismo do patrimônio histórico – tão importante – possa florecer!

    1. Destas igreja fui frequentadora assídua da Igreja da Lampadosa todas as segundas-feiras estava la para acender minhas velas.

      Habito esse que aprendi com minha mãe que toda vez que ia ao centro não drixava de passar por la.

  2. Faltaram três igrejas: Santo Antonio dos Pobres (Rua dos Inválidos), São Francisco de Paula (Largo de São Francisco) e Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos (Rua Uruguaiana).

  3. Adorei ver as igrejas da regiao do Saara. Que naves, que altares! Fico imaginando os frequentadores do Rio antigo, indo assistir a missa aos domingos.

  4. Parabéns pelo seu documentário! Trabalhei por 38 anos no Centro do Rio, hoje sou aposentada, tinha o hábito na hora do almoço de visitar as igrejas do Centro. Conheço todas ali existentes! Graças à Deus.

  5. Gostei da matéria, já fui muito ao Saara fazer compras para a minha lojinha, desisti da loja e me aposentei parei de ir lá, mas agora fiquei querendo visitar estas igrejas…
    ma.luciasn@gmail.com

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