Olhar uma estátua numa praça, admirar um edifício antigo, percorrer as salas de um museu. Visitar salões de fotografia. O que significa a atenção dada a tais objetos? O que eles representam? Por que estão expostos como objetos de arte num museu? É interessante tentar compreender estes simples gestos de admiração a objetos que são marcas de um passado que não volta mais.
Penso em tudo isto quando visito o Museu Imperial de Petrópolis. Já não vou aquela cidade com tanta regularidade, mas guardo a lembrança do museu. E lembro igualmente a circunspecção que assumo ao visitar a morada da família imperial brasileira. O simples calçar de pantufas para não arranhar o piso já me predispõe ao respeito. Passo a sentir como se estivesse entrando no passado, e me envolvo observando a mesa de refeições, as poltronas, a sala de estudo, a vida enfim de uma família do século 19, com sua riqueza imperial.
Por que devemos respeito a uma história que passou? Uma história que teima em nos acompanhar nas ruas e casas das cidades brasileiras e do mundo. Esta relação com a história, com a vida que se vivia no passado, pode ser chamada de cultura. Não é o simples envolvimento com o passado, mas especialmente compreender o que representam estas imagens, os objetos, os monumentos.
Que imagens lembram momentos difíceis da vida brasileira? Hoje, as pessoas visitam o Cais do Valongo no Rio, lugar do desembarque de escravos trazidos da África. Temos que rever o que foi a escravidão para compreender as diferenças sociais que ainda existem. Em Salvador, visitam-se os porões onde estão expostos ferros usados em castigos aos escravos. Em muitas cidades, as bicas e chafarizes que ainda resistem nas praças nos fazem lembrar que não havia água encanada nas casas. Era preciso buscá-la nas fontes.
Cada época tem sua história, seus valores, sua vida em comum. Conhecer estes símbolos que ficaram do passado nos ajuda a compreender as mudanças e os valores que perdemos ou ganhamos. Em vez de queimar o passado, como no Museu Nacional, aprender com os erros.
Por Célia Ladeira
Célia Ladeira é jornalista e Pesquisadora associada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da UnB.