Chafariz das Saracuras é restaurado dentro de projeto ‘Revitaliza General Osório’

Última obra de caráter civil do escultor Mestre Valentim (1745 – 1813), o Chafariz das Saracuras, localizado desde 1911 na praça General Osório, em Ipanema, está sendo inteiramente restaurado após sofrer com casos de furtos e vandalismo.  

A recuperação do monumento faz parte de uma parceria que reúne instituições e órgãos como o Instituto Carioca Cidade Criativa (ICCC), as Secretarias Municipais de Conservação e de Meio Ambiente, a Fundação Parques e Jardins e o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Batizado de ‘Revitaliza General Osório’, o projeto tem patrocínio de Fecomércio/Sesc/Senac, BTG Pactual, Estácio e Zona Sul, e contemplará toda a histórica praça. As obras foram orçadas em R$1,3 milhão e a estimativa é que sejam concluídas em agosto deste ano.  

Estão previstas ações como reforma do gradil e obras de paisagismo, melhorias no parcão e no parque infantil, além de implantação de academia da terceira idade e câmeras de segurança. 

Mas a “cereja do bolo” do projeto é mesmo a restauração do chafariz colonial concebido por Mestre Valentim, que já está inteiramente cercado por tapumes e painéis que contam sua história. 

A confecção das réplicas das peças do chafariz já teve início. O molde em silicone do cágado (ou  tartaruga) foi realizado e ficará sob guarda da Gerência de Monumentos e Chafarizes, para que, sempre que necessário, seja possível executar uma nova cópia da peça. 

Também foi realizada a confecção de réplicas das aves saracuras em bronze. Há alguns anos, duas delas foram furtadas. Agora o monumento voltará a exibir quatro saracuras, seguindo o projeto original de Mestre Valentim. 

O Chafariz das Saracuras e o Convento da Ajuda

O Chafariz das Saracuras foi construído em 1795 para o pátio interno do Convento da Ajuda, que erguia-se na região da atual Cinelândia.

O chafariz teria sido encomendado pelas freiras da Ajuda em homenagem ao Vice-Rei Conde de Resende (1790 – 1801), que havia lhes presenteado com um sistema de abastecimento de água próprio, feito por meio de um cano. Segundo a historiadora de arte Anna Maria Monteiro de Carvalho, a fonte funcionava como um “espaço de utilidade e lazer das irmãs”. 

Lavrado em granito carioca, o monumento possui cartela em mármore de lioz, onde lê-se: “Feito com a proteção do ilustríssimo e excelentíssimo senhor Conde vice-rei do Estado do Brasil, sendo atual abadessa a soror Anna Querubina de Jesus”. O brasão do Conde de Resende foi colocado em 1799 numa das faces da pirâmide, sobre cartela lapidar.  

A água saía da boca de quatro cágados e do bico de quatro aves saracuras, que se fixavam no pé da pirâmide. As esculturas, em bronze, foram fundidas na Casa do Trem (prédio que hoje integra o Museu Histórico Nacional). A água escorria para os tanques inferiores por meio dos cágados, que arrematavam as partes superiores dos tanques. 

Características do Monumento

Sobre uma plataforma elevada, de planta circular, ergue-se uma taça de grande porte. Para a plataforma se tem acesso por meio de quatro escadas que se alternam com quatro tanques. Sobre a taça vê-se um cilindro que suporta uma esguia pirâmide de base quadrada, encimada por cruz de ferro.   

O Chafariz tem forma circular, quatro tanques intercalados por quatro lances de degraus que dão acesso a um segundo plano, formando uma plataforma circular de cujo centro ergue-se uma taça. Desta parte uma coluna cilíndrica que forma a base da pirâmide quadrangular encimada por cruz de ferro.

Do Convento para a Praça

Em 1911, o Convento da Ajuda foi demolido, mas, felizmente, o Chafariz das Saracuras sobreviveu à demolição, sendo doado ao Município do Rio de Janeiro. 

Em 26 de outubro de 1911, o fotógrafo Augusto Malta realizou um último registro do chafariz dentro do claustro do velho convento. Em dezembro daquele ano, o chafariz foi instalado na Praça Ferreira Vianna, atual General Osório, em Ipanema.  

Uma vez instalado na praça, não demorou muito para que o chafariz passasse a ter uma relação afetiva com os cariocas, especialmente com os moradores de Ipanema.  

Anteriormente reservado apenas às freiras da Ajuda, o monumento passou a ser conhecido por toda a população.

Foto: Marco Antonio Teixeira / Agência O Globo
Furtos e Vandalismo

Ao longo do século XX e nessas primeiras décadas do XXI, a história do Chafariz das Saracuras se alternou em episódios de roubos e danificação com obras de restauração. Aliás, esta é uma rotina bem parecida com a de vários outros monumentos da cidade.   

Em diferentes momentos foi verificado que as peças decorativas do chafariz, como os cágados, as saracuras e as bicas haviam sido furtadas.

Réplicas das peças foram feitas, mas infelizmente voltaram a ser roubadas. De lá pra cá, a fonte ganhou novas restaurações, mas voltou a ser alvo de vândalos.

Esperamos que com o recente projeto, a segurança do chafariz histórico e de toda a Praça General Osório possam impedir novos casos de vandalismo e roubo, fazendo com que o monumento de Valentim possa ser apreciado por cariocas e turistas.

Veja mais fotos da restauração do Chafariz das Saracuras:

Restauração faz parte de projeto ‘Revitaliza General Osório’
Fonte foi construída para o pátio do Convento da Ajuda
Fonte está cercada por painéis que contam sua história
Chafariz das Saracuras ganha restauração
A confecção das réplicas das peças do chafariz já teve início
Obras devem ser concluídas em agosto de 2022
Chafariz é a última obra de caráter civil de Mestre Valentim
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Texto e fotos atuais: Leo Ladeira

Fotos Moldes do Chafariz: Instituto Carioca Cidade Criativa (ICCC)

Foto Vandalismo: Marco Antonio Teixeira / Agência O Globo

Fontes de Consulta

* ABRANTES, Nicolau. História da fundição artística no Brasil. RJ: Vecchi, 1979
* CORRÊA, Armando Magalhães. Terra Carioca – Fontes e Chafarizes. RJ: Imprensa Nacional, 1939
* FONTAINHA, Affonso. História dos monumentos do Rio de Janeiro. RJ: Ed. Americana, 1963
* MONTEIRO DE CARVALHO, Anna Maria. Mestre Valentim. SP: Cosac & Naïf, 1999
* RESTIER GONÇALVES, Aureliano. Extratos e Manuscritos sobre Aforamentos 1925, 1926-1929.
* Chafariz das Saracuras, de Mestre Valentim, na Praça General Osório, volta a ter ornamentos. Jornal Extra: 13/06/2008
* Duas saracuras que dão nome a chafariz da Praça General Osório são furtadas. O Globo: 12/11/2010
* Vídeo Chafariz das Saracuras – Rio Arte Cidade (YouTube) – Publicado em 16 de dez de 2012
* Canal Rio Arte Cidade
* Blog As histórias dos monumentos do Rio de Janeiro
* Blog Saudades do Rio

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5 comentários

  1. Muito bom saber que empresas privadas estão alocando recursos para a restauração e manutenção dos monumentos do Rio de Janeiro. Um monumento histórico como o Chafariz das Saracuras, que conserva a obra do grande Mestre Valentim, a sua última obra, como informa a matéria, deve ser sim restaurado e preservado para manter a história de nosso País, e do Rio. Parabéns pela linda matéria, pelo rico conteúdo e imagens!

  2. Excelente notícia! Excelente matéria!👏🏻👏🏻👏🏻 OLHOS DE VER 🥰❣️
    É até emocionante saber todo esse esforço coletivo de patrocínio e execução. Dá vontade de agradecer pessoalmente a cada um envolvido, né?
    Parabéns! Parabénsssss

  3. Que resgate fabuloso! Que outras iniciativas de recuperação e conservação aconteçam no Rio e no Brasil! Precisamos valorizar nossa história e nossa arte! Maravilhosa matéria! Parabéns! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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